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quinta-feira, 16 de junho de 2016

O Pecado Capital....por Cristiano Romero para o jornal Valor.

Não sou de colocar noticias de jornal aqui no blog, mas considerei importante, sou economista, mas parece que sociólogos e sindicalistas sabem governar melhor que os economistas, ambos cometeram erros em seus governos, mas hoje não falarei disso...

Dilma cometeu erros graves, brincou com nossa economia e ainda assim não fiquei a favor do impeachment. Acho que ela cometeu "crime de responsabilidade", mas é um argumento fraco e o que estamos vendo o PMDB fazer é terrível..sei que sou meio louca e difícil de entender, porém penso assim. 
No dia do show de horrores na câmara, aqui em casa apesar de não termos votado nela, torcemos para que aquele bando de corruptos dessem com os burros "n'agua", infelizmente não adiantou.

Diante disso é triste porém necessário constatar o fato que Dilma ao meu ver não consegue mais governar e que Temer foi um usurpador, aproveitador, maaaaassss não considero o impeachment um "golpe" é apenas parte do jogo, uma das peças do tabuleiro e nem considero que o governo do Temer seja ilegítimo ele é parte do jogo, não nos esqueçamos que quando o Presidente sai quem assume é o Vice, ainda bem que não é o Aécio (aí sim seria golpe)....
  
 Qualquer dia desses escreverei sobre o que penso acerca da ligação que o PT fez com o PMDB, por hora ainda estou irritada com isso e tenho comigo que enquanto ainda estou com raiva o melhor a fazer é me abster de falatórios.





O pecado capital
Por Cristiano Romero
em: 15/06/2016 - 5:00

O Brasil levou quase três décadas para domar a inflação e se conscientizar de que, sem estabilidade de preços, não haveria crescimento sustentável. Depois, demorou mais um bom tempo para entender que, sem controle dos gastos públicos, não conseguiria manter a inflação sob controle. Durante oito anos de
1986 a 1994, o país lançou vários planos econômicos para estabilizar a economia e não obteve êxito justamente porque não possuía uma âncora fiscal.
Quando Fernando Henrique Cardoso assumiu, em situação de emergência, Ministério da Fazenda em 1993, montou uma equipe econômica de peso, cuja primeira tarefa foi preparar, a toque de caixa, um conjunto de medidas para melhorar a situação fiscal, condição sine qua non para o sucesso da estabilização. Foi lançado, então, o Programa de Ação Imediata, primeira fase do Plano Real. Paralelamente a isso, a equipe começou a trabalhar numa estratégia de desindexação da economia.
A rigor, mesmo tendo essa preocupação, a equipe do Real lançou o plano de estabilização antes de alcançar o equilíbrio fiscal. Este demandava reformas constitucionais, privatizações etc. FHC e sua equipe assumiram em abril de 1993 e o real foi lançado pouco mais de um ano depois em julho de 1994. Não haveria tempo suficiente para mexer na estrutura fiscal, a ponto de assegurar as pré condições para o controle dos preços. Ademais, 1994 era ano eleitoral e, sendo o pai do Plano Real, Fernando Henrique era candidato natural à Presidência da República. Havia urgência no lançamento da nova moeda.
Alta exagerada do gasto público está na origem da crise. A ausência de uma âncora fiscal levou a equipe do real a se fiar numa âncora cambial. Havia abundância de capitais no mundo, o Banco Central (BC) já havia acumulado um nível razoável de reservas cambiais e isso permitiu manter o real apreciado por bastante tempo, o que, por sua vez, ajudou a desinflacionar a economia.
Nos primeiros anos do Plano Real, com FHC já na Presidência da República, o governo tomou medidas importantes, como a primeira reforma da previdência social, as privatizações de inúmeras estatais e a renegociação das dívidas dos Estados. Apesar disso, não fez do equilíbrio fiscal um objetivo imprescindível. Naqueles anos, o governo continuou gerando déficits significativos no orçamento, o que fez com que o câmbio (apreciado) continuasse atuando como única âncora da estabilidade de preços.
Apenas no último trimestre de 1998, quando o país entrara em crise em consequência da moratória da Rússia, ocorrida em meados de agosto daquele ano, o governo, depois de negociar socorro com o Fundo Monetário Internacional (FMI), começou a gerar superávits primários nas contas do setor público consolidado, destinados a honrar parte do serviço (juros) da dívida pública. O objetivo era conter o crescimento da dívida e depois começar a reduzi-la.
Manteve-se o câmbio como âncora, mas sabendo se que o mercado só continuaria aceitá-la se houvesse disciplina fiscal. Na virada de 1998 para 1999, o governo, porém, não conseguiu aprovar uma medida fiscal importante no Congresso a introdução da cobrança da contribuição dos inativos, criando dúvidas sobre a sustentação da âncora cambial. No início de 1999, o então governador de Minas Gerais, Itamar Franco, deu calote no pagamento da dívida externa, precipitando um movimento do mercado contra o câmbio.
O país só voltou à normalidade quando, alguns meses depois, Armínio Fraga assumiu o BC e, pouco tempo depois, anunciou a adoção do tripé responsabilidade fiscal, metas de inflação e câmbio flutuante que
regeria a política econômica dali até 2010. A âncora da estabilidade de preços passou a ser a taxa de juros, mas o objetivo declarado era criar uma âncora fiscal. Dali até 2013, o país passou a gerar superávits primários, política só interrompida em 2014 pela ruinosa gestão Dilma.
O governo Lula, de oposição a FHC, assumiu em 2003 e fortaleceu o tripé ao adotar duas medidas: o aumento do  superávit primário e a política de acumulação de reservas cambiais. Além disso, fez a reforma da previdência do setor público, um dos nós do problema fiscal. O fato de um governo do PT abraçar o equilíbrio fiscal incutiu nos agentes econômicos a ideia de que o país havia superado um obstáculo relevante ao crescimento sustentável. Essa percepção teve os seguintes efeitos nos anos seguintes: a inflação caiu de forma significativa de 12,5% em 2002 para 3,1% em 2006 ; confiantes no futuro, os empresários começaram a investir e a contratar o "exército de reserva" existente no mercado de trabalho, elevando a produtividade e o ritmo de crescimento da economia; e o governo passou a arrecadar mais, ajudando a fortalecer a posição fiscal, de forma que, em 2008, o país ganhou das agências de classificação de risco o
selo de bom pagador (grau de investimento). Considerando-se a crise da dívida, em 1982, como o marco do início da crise fiscal brasileira, e o grau de investimento como o da superação, o Brasil levou quase três décadas para superar o problema e entendê-lo como principal obstáculo à estabilidade de preços e ao crescimento do sustentado. Ironia do destino, 2008 foi também o ano em que, ainda no governo Lula, um grupo de economistas liderados por Dilma Rousseff começou a tramar o fim do tripé e a adoção da
"Nova Matriz Econômica", que jogou o país na recessão mais longa de sua história e novamente numa crise fiscal de enorme gravidade. 
Não foi à toa que, na posse do novo presidente do BC, Ilan Goldfajn, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, situou com precisão o ano de origem do drama que todos vivemos e o tamanho do problema.
"De 2008 a 2015, a receita total anual do governo federal cresceu 14,5% em termos reais, enquanto a despesa total cresceu 51%. Para acomodar essa diferença, a dívida bruta do setor público passou de R$ 1,7 trilhão para R$ 3,9 trilhões (ou seja, um crescimento de R$ 2,2 trilhões). Dentre outras consequências, houve crescimento exponencial dos gastos financeiros. A despesa com juros da dívida bruta do setor público consolidado, passou de R$ 165,5 bilhões, em 2008, para R$ 501,8 bilhões em 2015", disse Meirelles. A crise produzida pela "Nova Matriz" é a comprovação de que a disciplina fiscal ainda não é percebida no Brasil como um valor fundamental para o controle da inflação e o crescimento da economia.
Cristiano Romero é editor executivo e escreve às quartas-feiras.
Email: cristiano.romero@valor.com.br

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